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Páscoa, momento de passagem e reforma intima? Qual reforma e para quem?

Foto do escritor: Katia GutierreKatia Gutierre

Independente de credo ou religiosidade, hoje queremos falar do protagonismo da mulher diante dessa comemoração que para muitos tomou um cunho meramente comercial. Vamos pensar o que a Páscoa e as questões sobre o direito e proteção a Mulher podem conversar.


Peço que vejam, neste momento específico, a Bíblia como um escrito sócio histórico onde podemos observar as relações humanas de um determinado contexto e que podemos perceber o protagonismo das diferentes Mulheres que ali estiveram. Se olharmos para a Páscoa como um movimento de liberdade para um mundo onde muitos eram oprimidos, afirmaremos que se faz necessário repensarmos e renascermos, se quiserem usar estas palavras, para dar vez e voz as muitas mulheres que dentro de seus lares, de suas instituições religiosas, educacionais e profissionais são oprimidas, invisibilizadas, violentadas de diferentes formas, muitas vezes brutais, e devem silenciar, sustentando relações abusivas em nome de um Deus tirânico. O que é controverso, pois se Deus é Amor, e um Amor sublime, como viver em um inferno, em um espaço que deveria ser considerado seguro como o ambiente religioso? Isso pode ser aceitável?


Nós, Mulheres, vivemos carregando a responsabilidade de sermos cuidadoras de nossas famílias (imposição social conveniente para os homens) ao mesmo tempo que somos atravessadas e enredadas pelas inseguranças da vida, das políticas públicas que muitas vezes parecem ser difíceis de efetivação, seguidas de tentativa de retirada de direitos, como as que tiveram início em 2016, como os direitos trabalhistas.


[...] a Lei da Reforma Trabalhista (Lei nº13.467/2017) alterando, consideravelmente, essa regra protetiva. Se, antes dela, grávidas e lactantes eram proibidos de trabalhar em atividades insalubres de qualquer grau, pela nova lei só o labor em atividade insalubre de grau máximo continuava proibido. Ou seja, o empregador poderia determinar às gestantes e às lactantes que executassem atividades insalubres de graus médio ou mínimo. Somente escapariam de tal risco à saúde se apresentassem atestado “de seu médico de confiança” recomendando o afastamento desse tipo de trabalho (FROTA, 2017).


É chegado a hora de internalizarmos o verdadeiro sentido da palavra Páscoa, só conseguiremos desenvolver essa compreensão a partir do momento que questionarmos o nosso papel social, as nossas famílias e as nossas religiões, de maneira efetiva e assertiva para podermos promover, nestes mesmos espaços religiosos, um espaço seguro e confiável, um espaço acolhedor, de refazimento, ressignificação e sentido para um bem viver, saudável para todos. Práticas religiosas saudáveis que respeitem a diversidade humana podem propiciar equilíbrio emocional, fazendo com que a estrutura mental das pessoas possa desenvolver estratégias possíveis para lidar com ansiedades, medos, frustrações, raiva, desânimos e mazelas que nos enreda diante do mundo.


Sabe-se que a soberania masculina reina nos diferentes templos religiosos, esquecendo-se de que Mulheres fortes promoveram o crescimento de muitas sociedades (micros e macros), sem abandonar as suas crenças. Instituições que propiciam e reforçam estereótipos machistas e misóginos, que invalidam as opiniões das mulheres acabam reforçando abusos morais, violações de direitos, violências, além de incentivarem a submissão que agrilhoa e aprisiona, será que está foi a lição que Cristo deixou para lembrarmos na Páscoa?


As Mulheres não desejam ser superiores, NÓS desejamos ser reconhecidas como importantes, compartilhando esse símbolo de passagem para uma nova mudança de Era, onde de fato as nossas diferenças de: gênero, classe, etnia e sexualidade, sejam apenas potencialidades para construirmos um mundo melhor e igualitário, de esperança, liberdade, justiça e paz. Que os discursos, falas e pregações religiosas deixem o religiosismo e propaguem a religiosidade, restabelecendo o ânimo, sem medos, realizando ações para mudar a realidade que vivenciamos de feminicídios, assédios, submissões, silêncios e transtornos mentais que desarticulam e propagam tantos outros adoecimentos.


Conquistamos o direito ao voto, a ferro e fogo, executamos a função de chefes de Estados em todos os cinco continentes, lutamos pelos espaços da ciência conquistando muitas categorias dos prêmios Nobel®, assim como chegamos ao espaço. Mudamos um pouco das nossas condições diante de tantas dificuldades nestes últimos 100 anos, o papel das mulheres na sociedade tem mudado, estamos tentando conquistar – e já conquistamos - alguns lugares na sociedade contemporânea.

Contudo, em alguns espaços religiões continuamos desenvolvendo e exercendo papéis secundários, marginalizadas, oprimidas. Em diferentes religiões, mulheres são impedidas de crescerem nas atividades de ministrar cultos, em algumas outras não podem estar ou entrar em locais de adoração ao lado dos homens, mesmo que a participação delas sejam mais efetivas a dos seus parceiros.


Não deveríamos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos? Ou não foi esse um dos maiores ensinamentos cristãos? Não dizem por aí que aos olhos de Deus, ou da Deusa, somos todos iguais e se somos sua imagem e semelhança não deveríamos minimamente ter a semente do Amor em nós? Aonde esse tal amor foi parar quando falamos de Mulheres? Lembrem-se: A Páscoa deveria ser sinônimo de passagem do cativeiro para liberdade, ou não?


Por Andréa Pereira, psicóloga.


Referência

FROTA, Paulo M. A reforma trabalhista e as gestantes e lactantes. Disponível em https://www.trt16.jus.br/site/conteudo/artigos/A_REFORMA_TRABALHISTA_E_AS_GESTANTES_E_LACTANTES.pdf . 2017

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1 Comment


Unknown member
Apr 12, 2023

Reflexão maravilhosa ❤️

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