- A todo momento, consciente ou inconscientemente, as meninas e mulheres negras são tomadas por discursos, falas, atitudes e ações racistas e violentas! A maioria das pessoas acreditam que podem nomear e submeter outras a sua própria vontade [seja na escola, no trabalho, em casa ou na rua].
Em o Pensamento Feminista Negro, Patrícia Hill Collins expõe algumas das formas [deploráveis] que as mulheres negras são rotuladas, "matriarca, castradora e mamãe gostosa. Às vezes mana, gracinha, tiazinha e menina. Mãe solteira, dependente do Estado e sacoleira de centro pobre.” (2019, p. 135)
Além disso, muitas dessas mulheres - se não a sua maioria - são forçadas pela sociedade a admitir que todas as outras pessoas estão qualificadas à explicar quem elas são [até mais que elas próprias], mesmo sem a mínima consciência dos problemas enfrentados por cada uma.
- Além de todo esse cenário, contamos com as mais variadas formas de violência que são [infelizmente] banalizadas pela sociedade.
Uma busca rápida no site Carta Capital apresenta uma pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Igarapé¹ onde mostra que as mulheres negras são as principais vítimas de feminicídio no país! Ou seja, representam 67% dos casos notificados [naquele ano], sendo mulheres pardas 61% e pretas 6%.
- Diante de todo esse panorama, é indiscutível que é preciso repensar ações eficazes de reeducação e ativismo contra a violência que atinge todas as mulheres da nossa sociedade, com um olhar mais atento às mulheres pardas e pretas.
Vale lembrar [e ressaltar] que as diferentes formas de violência banalizadas pelo país desfavorecem a valorização da mulher, acumulando diversas ações negativas na esfera feminina, especialmente para as mulheres negras.
Citamos como exemplo, o menosprezo e a rejeição no mercado de trabalho e nos relacionamentos amorosos, a hiper sexualização, colocadas sob a tutela da dúvida estigmatizadas e estereotipadas em diversos âmbitos da vida. Precisam ser melhores que os homens negros e duas vezes mais que as mulheres e homens brancos!
Dentre tantas outras questões sociais que são impostas de maneira hegemônica.
Muitas vezes a violência que persegue, que paralisa e que mata advém de repetições familiares, padrões que se replicam, podendo ser de maneira inconsciente. Dinâmicas familiares sustentadas pelos medos, mitos e segredos. É preciso mudar de rota!
Como psicóloga percebo o quanto é difícil o entendimento desse adoecimento [ou desse questionamento] que muitas vezes vem amarrado pela dependência emocional, pelo querer ser amada e pela busca constante da aprovação, que aparecem no setting terapêutico, sob a seguinte fala: "a violência é uma expressão do amor!"
Além disso, é preciso compreender o escopo da dependência financeira, da falta de rede de apoio, das chantagens, dos acordos não verbalizados e principalmente de que Self (Eu) estamos falando e lidando, e qual estrutura psíquica se desenvolveu para que algumas não se permitam serem plenas e potentes.
É por esses e tantos outros motivos que os números acima desafiam os especialistas, as autoridades e as mulheres que tentam arduamente lutar contra essa pandemia social.
Façamos a nossa parte, não se cale!
O silêncio fere, e mata!
Para que nós mulheres possamos construir novas narrativas são precisos lugares de acolhimento e escuta qualificada, humana e ativa para construção de estratégias assertivas.
Pensar a violência contra a mulher negra é estar aberto a entender um “outro ficar” e “outro viver” diferente do que já está dado, ou seja, fazer a leitura e compreensão de estruturas familiares negras e as suas peculiaridades e não do que está posto de branquitude e heteronormatividades.
Todas têm o direito de sonhar e de recomeçar!
É possível construir novas histórias, não fiquem presas à histórias únicas, elas aprisionam, ferem e enredam um ciclo de violência que pode chegar até morte
Andréa de São Pedro Pereira – 48 anos: Mulher Preta.
Referências
ADICHIE, Chimamanda G. O perigo da história única. Ed. Companhia das Letras.
CARTA CAPITAL. Mulheres negras são as principais vítimas de feminicídio no País.
Disponível em COLLINS, Patrícia H. Mammies, Matriarcas e outras Imagens de Controle. In: Pensamento Feminista Negro. 2019, p. 135.
Indicações fílmicas
• Preciosa – uma história de esperança; • What Happened, Miss Simone?
• A Mulher Rei”; • Histórias Cruzadas; • Felicidade por um fio;
• Estrelas além do tempo;
Livros
• Pensamento Feminista Negro – Patrícia H. Collins;
• O pequeno Manual antirracista – Djamila Ribeiro;
• O que é lugar de fala – Djamila Ribeiro;
• Escritos de uma Vida – Sueli Carneiro;
• Ponciá Vicêncio – Conceição Evaristo;
• Olhos d’agua – Conceição Evaristo;
• Mulher, Raça e Classe – Ângela Davis;
• A liberdade é uma luta Constante – Ângela Davis;
• Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo – Guacira L. Louro; Jane Felipe, Silvana V. Goellner (organizadoras).
Fantástico! 👏 Muito bom esse artigo, já que hoje esse é um assunto tão pouco discutido…