Meu nome é Janete e não quero mudar meu nome.
Eu vou contar minha história e fazer um pedido para vocês escreverem sobre os direitos da mulher com câncer, acho muito importante só vejo as pessoas falando para a gente fazer Papanicolau, fazer mamografia mas não vejo muito sobre os direitos se der câncer nestes exames.
Minha história aconteceu já faz um bom tempo, uns seis ou sete anos, fiz o exame de Papanicolau no postinho de saúde e ai começou um inferno na minha vida.
Após uns dias do exame um enfermeiro me ligou e falou que eu tinha que voltar no postinho para passar no médico, porque meu exame estava alterado, na hora me deu um frio na barriga e tive certeza que eu tinha câncer! Até perguntei para o enfermeiro: "EU TENHO CANCÊR?" e ele calmamente me respondeu: "A senhora pode vir hoje na consulta as 18:00hs?'
A falta de resposta dele para a minha pergunta, foi um sim, ¨ EU ESTAVA COM CANCÊR". Concordei em ir na consulta e sai do trabalho e fui direto para o postinho, cheguei as 17:50hs e fiz a ficha na recepção, sentei onde me indicaram e nem um minuto depois um médico saiu e chamou meu nome, eu levantei e ele falou alto: "Estou te chamando desde as 17:00hs!"
Eu fiquei morrendo de vergonha, e respondi que havia marcado para as 18:00hs, ele virou as costas e me ignorou, nem sabia se seguia ele ou saia correndo.
Sentei no consultório e ele sem nem me olhar falou: "Seu exame deu HPV, vou te mandar para um especialista para fazer uma biopsia", me deu o papel e eu sai. Não teve conversa, só ele falou e eu sai com a certeza que tinha câncer, e que ia morrer... Fui chorando até a minha casa, só queria sumir e tinha que esperar o postinho marcar a biopsia.
Não contei para ninguém, estava com muita vergonha, pois o médico falou que eu tinha HPV, pesquisei sobre e li que era uma doença que se pegava através do sexo.
Eu não traia meu companheiro, mas já tinha tido um outro marido e alguns namorados antes do meu marido atual então, acreditei que era culpada.
Quando marcaram a biopsia eu contei para meu companheiro e ele ficou muito bravo, começou a me maltratar e insinuar que eu devia ter um amante ou que eu devia sair com qualquer um quando estava solteira e, as vezes até insinuava que era meu ex marido, pai dos meus filhos que tinha me contaminado. Passamos a brigar todos os dias, era um inferno, até que ele quis terminar alegando que não confiava em mim, e eu dei graças a Deus, sei lá... não suportava olhar na cara dele, engraçado que só hoje eu percebo que nunca nem pensei que ele podia ter passado o HPV para mim.
Fui na biopsia sozinha, um hospital horrível, na recepção tinha um monte de mulheres sem cabelo, algumas com cara de muito doente, foi horrível eu olhava para aquelas mulheres e sentia um medo enorme, tinha vontade de chorar, de sair correndo.
Quando a enfermeira me chamou eu dei graças a Deus, porque estava desesperada para sair daquela recepção, a enfermeira me deu um avental, me orientou a deitar em uma maca, ela foi muito boazinha e muito educada, mas tinha um jeito de falar que parecia ensaiado sabe, sem me olhar, sei lá acho que eu estava procurando alguém para me socorrer mesmo e coloquei a obrigação nela.
O médico entrou não me deu nem bom dia e falou para eu colocar uma perna de cada lado, falou que eu ia sentir um incomodo e foi ai que senti um fisgada, parecia que ele tinha dado um beliscão no meu útero. Quando vi, ele estava levantando e saiu andando sem falar nada, foi embora, a enfermeira me pediu para vestir minha roupa, me deu um protocolo para retirar o exame, e orientação para marcar o retorno.
Mas uma vez sai me sentindo um nada, sei lá foi tão estranho, eu ficava pensando se eu que estava muito sensível, se estava querendo atenção demais, ou se as pessoas estavam me tratando deste jeito porque achavam que eu era uma mulher que não prestava porque tinha dado HPV no meu exame.
Um tempo depois me ligaram e mandaram voltar no especialista para uma consulta, cheguei lá e desta vez ele falou que eu tinha que queimar umas feridas que tinha no meu útero, e que eu não tinha câncer, mas tinha que voltar depois de 06 meses para novo exame. Fiquei na posição novamente com a ajuda da enfermeira e ele queimou as feridas, eu lembro da dor e do cheiro de queimado, eu senti tanta vergonha, não tinha nem coragem que falar com o médico, ele acabou e foi embora. A enfermeira mandou me trocar e eu perguntei para ela o que eu podia tomar para dor, porque estava com cólica, ai ela me deu uma receita que o médico tinha deixado, eu fui embora comprei os remédios e usei direitinho, sei que tenho que agradecer que não tinha câncer, mas até hoje quando tenho que fazer Papanicolau eu me sinto muito mal, para mim é sempre como se eu fosse agredida sabe.
Acho que falta treinamento para estes médicos e enfermeiras para entender que quando a gente está fazendo exames para saber se a gente está com câncer a gente tem muito medo, muita tristeza e precisa se sentir a vontade para perguntar, poder falar sabe.
Espero que as coisas estejam melhor naquele hospital, no postinho, agora é a enfermeira que faz o exame de Papanicolau, graças a Deus, eu ainda detesto o exame, mas agradeço muito de não ser com aquele médico que me tratou mal.
Comments