top of page

Resistência

Foto do escritor: Katia GutierreKatia Gutierre

Gostaria de ser chamada de a Resistência.


Antes de contar minha história quero agradecer a oportunidade de poder desabafar sem me expor.

Quando criança eu não me sentia parte da minha família, tinha um pai que eu idolatrava, porque ele contava que trabalhava na mesma empresa desde de criança, que tinha construído a casa que morávamos com as próprias mãos, porque ele parecia grande e capaz de me proteger de qualquer coisa.

Por algum motivo eu não enxergava que ele bebia muito, consumia maconha , passava noites fora e deixava minha mãe sozinha com seus quatro filhos enquanto se divertia em bares, lembro que ele jogava futebol e eu achava que ele era o melhor jogador do universo, lembro que todo final de ano íamos para a praia e ele as vezes sumia.

E a minha mãe? Era um saco ficar perto dela, só reclamava, brigava, o tempo todo cansada e quando ele chegava das noitadas, ou dos passeios, ou do futebol ou do bar, ela arrumava briga!

Eu pensava: "Que inferno, não é atoa que ele não fica em casa, quem aguenta está mulher?"

Eu não aguentava, ela batia em nós os filhos quase todos os dias, e quando não batia tinha sempre uma ameaça na fala.

E as brigas? A era um inferno! Ele chegava ela cobrava, eles começavam a discussão e logo logo ele perdia a paciência e batia nela.

E eu escutava depois ele falando.... "Viu o que você fez eu fazer... Eu não queria isso...mas você me tira do sério... O que você quer ? Acabar com nossa família?"


Os anos foram passando e quando me tornei adolescente percebi que minha mãe estava no ciclo da Violência, e que não tinha força nem apoio para sair de lá.

Nem nós os filhos a apoiavam, queríamos nos livrar daquela vida, queríamos que ela desse um jeito, então começamos a ir embora, cada um mais cedo que o outro, não levamos ela, não olhamos para trás, pois queríamos só sair dali.

Um foi com 18, outro com 16 e eu com 15, apenas o caçula ficou mais tempo e sinceramente não sei quanto.

Ela se separou finalmente depois de muitos anos, sempre trabalhou muito, e está sozinha até hoje. Já meu pai teve algumas namoradas, mas nunca mais se casou.

As vezes nos reuníamos no natal, ano novo, os quatros filhos, nossos filhos meu pai e minha mãe, mas o preço era caro, sempre brigas, ou fofocas.


Hoje não tenho uma boa relação com ela, ela se tornou uma mulher triste, doente e não consegue se sentir a vontade com os filhos, a relação se tornou de necessidade. A nossa família se junta quando alguém está com problemas de saúde, ou alguém morre, a relação com meu pai é mais fácil, pois ele continua a ser o boa praça, faz churrasco, brinca, abraça. Meus irmãos? Pouco nos encontramos e sinto que não temos uma relação de família, não brigamos sabe!? Mas cada um seguiu sua vida.

Hoje percebo todo sofrimento da minha mãe, e penso que poderia ter feito muito mais por ela, tenho um desejo de nunca ver nenhuma família ser destruída como a minha foi.


Hoje eu sei que foi a violência doméstica que afastou cada membro da minha família e acredito que se a minha mãe tivesse tido o apoio de algum grupo de apoio, talvez ela tivesse conseguido sair do ciclo da Violência, e nossa história poderia ter sido muito diferente...

9 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

JANEIRO BRANCO

LEI 14.721 Altera os arts. 8º e 10 da Lei  nº 8.069 e os artigos 8 e 10 do ECA estatuto da criança e adolescente Assistência à gestante...

EUNICE PAIVA

1 Comment


Unknown member
Apr 24, 2023

Verdade, a falta de apoio e informações, destroem família. Muito triste tudo isso. Esperamos por uma cultura melhor , longe dessas violência!!!

Like
bottom of page